A cada ano, o brasileiro joga 42 quilos de comida no lixo todo ano. Multiplique pelo tamanho estimado da população acima de dez anos, algo em torno a 195 milhões, e temos o tamanho do desperdício que vai para a conta das famílias. A maior parte da sobra excessiva descartada em casa não é constituída de alimentos estragados, mostra pesquisa sobre hábitos de consumo familiar de alimentos, liderada pela Embrapa, como parte do projeto Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil. A pesquisa teve o apoio da FGV e os resultados foram apresentados na semana passada em Brasília, durante o Seminário Internacional União Europeia – Brasil Perdas e Desperdício de Alimentos em Cadeias Agroalimentares: Oportunidades para Políticas Públicas.
Arroz, feijão, carne bovina e frango são os alimentos mais descartados, sendo que o principal motivo para esse desperdício é a falta de hábito das famílias de aproveitar sobras de refeição, constatou a pesquisa. São 41,6 quilos de comida jogadas por ano.
Desse total, 22% correspondem a arroz pronto, 20% a carne bovina, 16% a feijão e 15% a frango (15%). Mais de 77% da amostra pesquisada admitiram a preferência por ter sempre comida fresca à mesa, o que leva 56% delas a cozinhar em casa duas ou mais vezes por dia, contribuindo com a preservação da ideia de que “é sempre melhor sobrar do que faltar”, informaram os pesquisadores em apuração da área de notícias da Embrapa e da Agência Brasil.
“Ter uma despensa sempre abastecida é um traço cultural muito presente nas famílias brasileiras e principalmente no contexto da classe média baixa, essa necessidade ocorre em função de a compra dos alimentos ser a prioridade do orçamento familiar.
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Essa nova pesquisa reforça achados anteriores de que a preferência pela fartura é um promotor de desperdício de alimentos”, afirmou o analista da Embrapa Gustavo Porpino, líder do projeto dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, em reportagem da jornalista Aline Bastos da área de comunicação da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
O analista também acrescenta: “Renda e idade não explicam a diferença entre os que desperdiçam mais e os que desperdiçam menos alimentos, mas percebemos que as classes A e B têm maior tendência a desperdiçar hortaliças, até porque as classes de menor renda consomem pouco esse tipo de produto”. Os especialistas apontam outras causas do desperdício como colocar comida demais no prato, principalmente, das crianças, e a falta de planejamento do cardápio das refeições em casa.
PESQUISA EM TRÊS ETAPAS
Pela amplitude do tema, a pesquisa foi dividida em três fases. Na primeira etapa, ao longo de cinco semanas, a equipe entrevistou 62 consumidores em supermercados, lojas de conveniência e feiras livres da cidade de São Paulo. O grupo de pesquisadores foi formado por alunos europeus do curso de mestrado em Gestão Internacional da FGV, vindos das universidades de Bocconi (Itália), St Gallen (Suíça), Viena (Suíça) e Groningen (Holanda). Segundo a FGV, o objetivo foi avaliar hábitos de compra e consumo de alimentos dos brasileiros, a partir do olhar dos europeus.
Na segunda fase, depois de uma ampla triagem, 1.764 famílias responderam um questionário sobre hábitos de consumo de alimentos e desperdício. Desse universo, 686 aceitaram preencher um diário durante uma semana, anotando a rotina alimentar diária, especialmente de almoço e jantar, incluindo fotos da comida que jogavam fora.
A terceira fase usou uma ferramenta de web scraping, pela qual programas específicos de extração de dados, chamados robôs, acompanharam blogs e postagens em mídias sociais como Facebook e Twitter para avaliar o volume de conteúdo em torno do desperdício de alimentos.