Identificar alimentos que previnem ou ajudam no tratamento de doenças cardiovasculares e ao mesmo tempo sejam acessíveis à população. Esse é um dos pilares do projeto DICA BR (Dieta Cardioprotetora Brasileira), desenvolvido em parceria pelo Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração de São Paulo (HCor) e o Ministério da Saúde.
O Dica BR testa um programa alimentar com três vertentes: uma dieta composta de alimentos brasileiros, o contato freqüente com nutricionistas e uma metodologia lúdica que utiliza a Bandeira do Brasil para orientar o paciente sobre o que ele deve comer mais, moderado ou pouco, de acordo com a predominância das cores na bandeira.
O projeto começou em 2011 e deve ter suas análises concluídas neste ano, quando se conhecerá a eficácia das medidas e dos alimentos adotados. Um estudo piloto feito com 120 pessoas em São Paulo durante três meses mostrou resultado positivo. Foram formados três grupos. Apenas um deles seguiu a proposta do DICA BR e os outros dois seguiram orientações usuais nesses casos. Aquele grupo que seguiu o Dica BR teve maior redução de peso e da circunferência da cintura.
SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO
Os bons resultados do estudo piloto deram início a uma avaliação mais ampla, que envolve 2,5 mil pacientes e 35 centros de pesquisa em todo Brasil, informa a nutricionista do HCor, Jacqueline Tereza da Silva, que participa do projeto. Para poder verificar o quanto cada um desses 2,5 mil participantes da pesquisa está seguindo a dieta do DICA BR, Jacqueline criou um sistema que determina valores para os produtos inclusos na dieta a ser seguida e, com a ajuda de um software, identifica o nível de adesão do paciente.
Ao final da pesquisa, confirmada a eficácia da proposta do DICA BR, os planos são para desenvolver um aplicativo que possa ajudar profissionais e pacientes nessa tarefa. O objetivo primeiro é facilitar a vida do paciente atendido na rede pública, que necessitam desse tipo de dieta. Mas o recurso deverá ser usado sempre com orientação de um nutricionista, como previsto no projeto. É o profissional quem vai definir os alimentos a serem consumidos, quantidades, horários e melhor forma de consumo.
ALIMENTOS SAUDÁVEIS
Embora já se conheça alguns alimentos considerados benéficos para o coração como azeite, oleaginosas e o consumo freqüente de peixes, não são produtos acessíveis à população em geral. Considerando a riqueza de variedades encontradas no Brasil, estão sendo testadas dietas com produtos disponível em cada região do país, esclarece Jacqueline.
Para o paciente do Rio Grande do Sul, por exemplo, melhor seria recomendar o consumo de suco de uva, ao qual ele tem fácil acesso na região, e não o de castanhas, que pode ser indicado para o paciente do Rio Grande do Norte, por ser encontrada em quantidade, explica Jacqueline. Consumindo alimentos da própria região, o paciente tem uma qualidade nutricional melhor, o alimento é mais fresco, e o preço geralmente é mais baixo. Essa proximidade evita o transporte do alimento por grandes distâncias e o armazenamento por longos períodos.
“O Brasil tem uma variedade de alimentos tão grande, queremos aproveitar essa riqueza para proteger o coração. E, geralmente, as doenças do coração também acabam acontecendo porque se substitui o consumo de alimentos frescos, naturais da nossa região por ultraprocessados, aqueles que abrimos o pacote e comemos ou apenas esquentamos. A idéia é valorizar o que temos de natural e colocar o mínimo possível esses ultraprocessados”, afirma Jacqueline.
O DICA BR faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Serviço Único de Saúde (Proadi-SUS).